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Relatório AR6 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas

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  • Caroline Lima Ferraz

Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas, apresentou, no dia 20 de março, o seu sexto Relatório de Avaliação (AR6). O Relatório urge para a necessidade de mudanças sem precedentes para conter o aumento das emissões dos gases do efeito estufa. Alerta que o que tem sido feito nos últimos 5 anos são insuficientes para conter os danos causados pelo aquecimento global. O aumento da temperatura do planeta em 1,1ºC, decorrente da queima excessiva de combustíveis fósseis, uso de energias não sustentáveis e do uso discriminatório das pastagens têm causado eventos extremos que afetam diretamente a natureza e a população. O Relatório afirma que a solução está no desenvolvimento de medidas resilientes sobre o clima.

Em 2018, o IPCC alertou para a necessidade urgente de redução das emissões e os riscos irreversíveis de um aumento de 1,5ºC na temperatura do planeta pré-Revolução Industrial. Após 5 anos de debates, as emissões de gases do efeito estufas aumentaram, e o que tinha sido feito até agora tornou-se insuficiente para conter as mudanças climáticas.  O Relatório, aprovado semana passada, apresenta as perdas e danos a que foram, estão e serão submetidas às populações dos mais diversos lugares do planeta. Os povos mais vulneráveis são sempre os mais prejudicados; alguns ecossistemas dificilmente serão recuperados.

O aumento da temperatura resulta em perigos reais: ondas de calor mais intensas, chuvas mais pesadas e outros extremos climáticos aumentam ainda mais os riscos para a saúde humana e para os ecossistemas. Em cada região, as pessoas estão morrendo de calor extremo. Quase metade da população mundial vive em regiões altamente vulneráveis às alterações climáticas. As inundações, secas e tempestades se tornaram 15x mais intensas, nos últimos 10 anos, nas regiões mais vulneráveis. É esperado o aumento da insegurança alimentar e hídrica causada pelo clima. Para o IPCC, quando esses riscos se combinam com outros eventos adversos, como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar.

O Relatório foi dividido em três grandes partes. Na primeira seção, “Status atual e tendências”, analisa-se que a ação humana, principalmente na emissão de gases do efeito estufa, é responsável pelo fenômeno do aquecimento global e pelo aumento da temperatura global em 1,1ºC, comparado com os valores de “1850-1900, em 2011-2020. A seção apresenta as “Mudanças e os Impactos” desse aquecimento, como as rápidas alterações na atmosfera, nos oceanos, na criosfera e na biosfera. Para o Relatório, as comunidades mais vulneráveis são aquelas que menos contribuíram para o aquecimento global, mas as que são proporcionalmente mais afetadas. Traz ainda a subseção “Progresso atual de adaptação e as Lacunas e os Desafios” para o avanço das energias sustentáveis e da redução do consumo de combustíveis fosseis. O financiamento global é insuficiente para promover a adaptação do consumo, especialmente em países em desenvolvimento.

Por fim, apresenta a subseção “Progresso atual da mitigação, lacunas e desafios”. As políticas e leis que abordam a mitigação das consequências do efeito estufa têm se expandido consistentemente desde o AR5, entretanto, as previsões são de que as emissões atuais ocasionem o aquecimento acima de 1,5°C durante o Século 21. Existem lacunas entre as emissões projetadas das políticas implementadas e as das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs); os fluxos financeiros ficam aquém dos níveis necessários para atingir as metas climáticas em todos os setores e regiões.

Na segunda Seção, o Relatório apresenta “Mudanças Climáticas Futuras, Riscos e Respostas de Longo Prazo” e endereça projeções para além de 2100. O aumento da temperatura ocasionará riscos múltiplos e simultâneos que exigirão reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa. Essas reduções levariam a uma desaceleração perceptível do aquecimento global em cerca de duas décadas e a mudanças perceptíveis na composição atmosférica dentro de alguns anos. Na subseção “Impactos das Mudanças Climáticas e Riscos Relacionados ao Clima”, o aumento da temperatura acima de 1,5ºC projeta impactos de longo prazo ainda maiores que os observados atualmente. Os riscos climáticos e não climáticos irão interagir cada vez mais, criando riscos compostos e em cascata, mais complexos e difíceis de gerir. A Seção analisa ainda “Probabilidade e riscos de mudanças inevitáveis, irreversíveis ou abruptas”, com afirmação de que algumas mudanças futuras são inevitáveis e/ou irreversíveis, mas quem podem ser limitadas ou mitigadas se houver uma redução profunda, rápida e sustentada das emissões globais de gases de efeito estufa.

Em “Opções de adaptação e seus limites em um mundo mais quente”, o Relatório asserta que as opções de adaptação que são viáveis ​​e eficazes hoje tornar-se-ão restritas e menos eficazes com o aumento do aquecimento global. É necessário um planejamento flexível, multissetorial, inclusivo e de longo prazo. Há que se discutir os “Orçamentos de Carbono e Emissões Líquidas Zero” e os “Caminhos de Mitigação”, visto que, para o IPCC, reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa são fundamentais para a qualidade de vida no planeta. Por fim, na subseção “Ultrapassagem: Excedendo um Nível de Aquecimento e Retornando”, o Relatório afirma que, ainda que as temperaturas ultrapassem 1,5ºC dos níveis pré-industriais, o aquecimento global poderia ser gradualmente reduzido se houver emissões líquidas globais negativas de CO2, mas os impactos adversos e riscos adicionais para os sistemas humanos e naturais, dificilmente seriam revertidos.

A última Seção do Relatório são as “Respostas de curto prazo em um clima em mudança” e considera os cronogramas de políticas internacionais atuais num intervalo entre o agora e 2030-2040. É necessária uma “Urgência de Ação Climática Integrada de Curto Prazo”, visto que há uma janela de oportunidade que se fecha rapidamente para garantir um futuro habitável e sustentável. É necessário pensar em desenvolvimento sustentável para todos, aumentando a cooperação internacional, incluindo o aumento da oferta de fontes de financiamento adequadas, especialmente nas regiões, setores e grupos mais vulneráveis. Os “Benefícios das Ações de curto prazo” reduziriam as perdas e danos projetados para humanos e ecossistemas e traria outro co-benefícios, como melhora na qualidade do ar e da saúde. Na subseção “Mitigações e Opções de adaptação dentro do Sistema”, o Relatório assevera que as transições devem ser rápidas e de longo alcance em todos os setores, visto que já estão disponíveis opções viáveis, eficazes e de baixo custo para mitigação e adaptação das emissões de gases.

O Relatório afirma que as ações de mitigação igualitárias podem contribuir para o desenvolvimento sustentável (“Sinergias e trade-offs com o desenvolvimento sustentável”), e que é priorizando a equidade, a justiça climática, a justiça social, a inclusão e a transição justa que se pode permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e de desenvolvimento resiliente ao clima (“Equidade e Inclusão”). O Relatório propõe ainda medidas de “Governança e Políticas Públicas”, visto que não há que se falar em ações climáticas sem compromisso governamental. Instrumentos regulatórios e econômicos podem apoiar reduções profundas de emissões e resiliência climática se ampliados e aplicados amplamente. Por fim, em “Finanças, Tecnologia e Cooperação Internacional”, o IPCC afirma que ainda existem barreiras para redirecionar o capital para a ação climática, embora existam recursos disponíveis. Sugere-se aprimorar os sistemas de inovação tecnológica para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas e melhorar a cooperação internacional por meio de múltiplos canais.

Para o IPCC, tomar a ação correta agora pode resultar numa mudança transformacional essencial para um mundo sustentável e equitativo. Isso envolve a integração de ações para se adaptar às mudanças climáticas com o objetivo de reduzir ou evitar as emissões de gases de efeito estufa de forma a fornecer benefícios mais amplos.

Site: https://www.ipcc.ch/report/ar6/syr/resources/spm-headline-statements

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  • Caroline Lima Ferraz